Ansiedade e memórias

Deixa tirar uma dúvida com você. Aí onde você mora, você teria coragem de convidar qualquer pessoa que passasse na rua da sua casa para entrar nela? Provavelmente não, né? E a pergunta que te faço é: por qual motivo você deixa entrar qualquer um na sua casa interior, o seu cérebro?

Pode parecer que não, mas algumas imagens que guardamos em nossas memórias (visuais, auditivas, cinestésicas) podem funcionar dentro de nós de forma tão vívida e ativa que essas memórias parecem como se fossem pessoas vivas e com vontade própria. Quem nunca se viu lembrando de alguma coisa que surgiu “do nada” na sua cabeça? E quem nunca ficou mergulhado em pensamentos por vários minutos e talvez várias horas?

Pois é. Quando esses “hóspedes” da nossa casa interior são tranquilos, alegres, sociáveis e até engraçados fica bom conviver com eles. Agora, quando eles são barulhentos, ofensivos, humilhantes, depressivos se torna algo bem desagradável ter que conviver com essas “pessoas”.

E quando esses pensamentos, memórias ou até imaginações ficam nos rodeando como se fossem um urubu atrás de carniça? Tentamos de tudo para afastar esses pensamentos, muitas vezes, sem sucesso. 

O fato é que estamos muito descuidados com aquilo que escolhemos deixar entrar para dentro da nossa memória. Vamos escolhendo colecionar memórias que mais nos assustam do que nos tranquilizam, guardando numa espécie de estante mental uma coleção de “monstros de filme de terror”.

Daí, quando menos se espera, numa situação de vida qualquer, o “monstro” pula da estante e aparece para nos assustar e nos deixar reféns. De nós mesmos.

Sabe o que muitos de nós fazemos nessas horas? Chamamos um ajudante: o anestesista de consciência. Dê a ele o nome que quiser. Ele surge na nossa vida com a única função de deixar nossas memórias ou enterradas ou anestesiadas ou dopadas. 

Encarar os monstros da estante mental? Nunca! Melhor deixar a visão cega para vê-lo, afinal, o que os olhos não vêem o coração não sente… E começamos a jornada da anestesia: achamos que estamos precisando de descanso, de férias, de TV, seriado, qualquer coisa viciante que dê menos trabalho que cuidar da vida mental, do interior.

E isso vai nos distanciando gradativamente de nós mesmos. Vamos produzindo, sem perceber, uma alienação de si mesmo. Fico sem saber o que quero, quem sou, o que gosto, o que gostei, quem gostei, onde mais gostei de ir, o que não gostei nisso tudo, como lidei com isso, como posso lidar se não gostar de novo, como dominar os hóspedes indesejados e por aí vai…

Uma pessoa alienada sobre o que se passa dentro de si acaba tendo atitudes bem desagradáveis, que só tornam a sua própria vida mais difícil. E a vida de quem está ao redor, convivendo com essa pessoa alienada, às vezes fica difícil tanto quanto.

O alerta de hoje que faço é um convite também: não tenhamos medo de nós mesmos.

Essa fuga de si só é capaz de gerar mais e mais sofrimento. Daqueles hóspedes que permitimos entrar em nossa casa interior, caso sejam indesejados, que se crie um jeito de torná-los “hóspedes” mais agradáveis. Tenhamos mais critério sobre o que deixar entrar. Há certos “hóspedes” que só querem entrar para badernar e perturbar. Desses, precisamos manter muita, muita distância!

Escrito por Guliver Nogueira

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