Por que não consigo parar de desconfiar?

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Os seres humanos percebem. E o ato de perceber contém elementos que estruturam essa ação complexa, dentre elas: capacidade descritiva dos fatos e interpretação deles.

Descrever nada mais é que dar nomes a todos os elementos contidos dentro de um fato. Nomes esses, que podem ser sujeito, verbos, adjetivos, substantivos. O ato de descrever um fato envolve organizar adequadamente todos esses nomes, a fim de compor uma cena, o fato em si.

E essa forma descritiva é diferente entre uma pessoa prudente e uma paranoica.

A pessoa prudente consegue descrever a vida sem muita dificuldade. Ao se deparar diante de um fenômeno, consegue dar o nome certo para cada coisa ali contida, de forma bastante fidedigna.

Se a cena observada é ver duas pessoas conversando e uma dizendo para a outra: “diante de um sinal vermelho, pare”, a pessoa prudente conseguiria descrever o diálogo, com pouco acréscimos de informações, e que retrataria quase que ponto-a-ponto a cena observada.

Já a pessoa paranoica não. A sua capacidade de perceber e interpretar fica errada. Faltam ajustes para que haja uma perfeita calibragem entre aquilo que se percebe e a descrição nominal do que é percebido.  

Na paranoia, as percepções descritas não retratam a realidade objetiva, mas sim a realidade subjetiva de quem narra. Essa realidade pode conter forte contaminação de emoções ou interpretações equivocadas sobre aquilo que se observa.

O paranoico reforça e dá ênfase nas emoções e equívocos de raciocínio sobre a realidade observada, para tentar fazer com que eles sejam a realidade objetiva do fato. O critério de realidade concreta passa a ser determinado pelo que a pessoa afirma, e não pelo fato em si.

Ora, sabemos que interpretar o que se ouve ou o que se vê, engloba deduzir informações que não estão explícitas, (mas implícitas) e que são verdadeiras de serem afirmadas, por estarem contidas na realidade observável.

E, igualmente, o ato de interpretar pode ser feito de forma prudente ou paranoica. Para a pessoa paranoica, interpretar não é igual a descrever um fato real.

O paranoico distorce, mente, dramatiza, exagera como se tudo fosse referente à ele.

Voltemos à cena anterior. O paranoico vê duas pessoas conversando, e faz uma interpretação que poderia ser semelhante a: “vejo que a pessoa que fala é um guarda do trânsito (mesmo que a pessoa esteja sem os trajes que caracterizariam um), que falou sobre os sinaleiros vermelhos, e disse que parar diante deles (descrição correta) é uma tentativa de me privar da minha liberdade de ir e vir (informação que existe, mas que não está contida na cena, por não ter ocorrido externamente, mas apenas na imaginação do paranoico).

A pessoa prudente, interpretaria de maneira mais fiel: “vejo que há uma pessoa dando ordens à outra, sobre como agir diante de um sinal vermelho, para ensiná-la sobre leis, evitar acidentes e outros problemas. Ela pode ser um guarda de trânsito, mas também pode ser seu pai/mãe. No mínimo, um educador”. Tudo feito sem muitas divagações interpretativas.

Houve acréscimo de informações na descrição da pessoa prudente? Houve, mas a forma de retratar a realidade inclinou-se a ser mais próximo da realidade observável por todos. Qualquer um poderia concordar com essa descrição.

Na paranoia, sempre há acréscimo de informações que carecem de provas e evidências, para serem reais. E é aí que mora o perigo: achar que todos estão certos, sob seus pontos de vista.

Não. Existem pontos de vista errados, pois o ponto de partida para avaliá-los deve ser sempre o mundo de fatos concretos observáveis por todos. Se não há um fato concreto (como saber o que o outro pensa ou suas motivações interiores), eu posso tornar isso um fato concreto, explicitando-o através do diálogo.

Como as pessoas não avaliam mais o que o outro diz, de acordo com o mundo concreto observável, isso incentiva paranoicos a criarem narrativas em suas cabeças, que jamais serão contraditas, e exigidas de serem validadas como fatos objetivos.

O perigo disso é a pessoa paranoica acreditar tanto nessa história inventada pela sua própria cabeça, que a sua capacidade perceptiva a faça viver em uma realidade paralela, própria de quem está quase entrando em surto psicótico.

Muitas das distorções cognitivas que as pessoas criam tem origem nessa forma imprecisa de saber descrever os fatos. E, por isso, é fundamental que pessoas inclinadas a paranoia se abram para receber ajuda, e corrigir essa forma de ver e descrever a vida.

O risco de não corrigir essa capacidade cognitiva será você se tornar, narcisisticamente, apegado às suas próprias ideias e pensamentos errados.

E isso pode te conduzir a um rompimento com a realidade concreta que te fará viver atormentado pelos seus próprios pensamentos. A consequência mais grave disso é a pessoa não mais agir e reagir às coisas do mundo real, mas somente àquilo contido na fantasia ilógica da própria cabeça.

Alguns chegam a um nível tão forte de viver reagindo aos conteúdos internos que acabam desenvolvendo sintomas emocionais, como ansiedade, depressão, oscilação de humor entre outros. Tudo por rigidez psicológica.

Graças a Deus e à ciência, existem pessoas capacitadas que podem ajudar profissionalmente. O nosso cérebro tem uma capacidade de ser flexível, plástico, moldável, passível de modificação, através de mecanismos de aprendizagem, que conduzem à flexibilidade psicológica.

Ter flexibilidade psicológica envolve (re)aprender a (re)conhecer o mundo dentro do espectro da realidade concreta, abandonando visões ilógicas e irreais. Para ajudar pessoas a alcançar esse novo patamar de consciência, escrevi meu livro “Abra seus olhos”, que ensina caminhos para corrigir essa estrutura de pensamento equivocada que construimos ao longo da vida.

Isso é o que fará com que sua vida dê um salto de qualidade e felicidade.

Só resta saber se você quer viver dentro dela.

Escrito por Guliver Nogueira em 05.11.2023

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