Por que tenho dificuldade de comunicar?

Primeiramente devemos aprender e definir melhor o que é comunicação. 

Comunicação é o processo de uma pessoa se fazer entender pela outra pessoa, comunicando o que se quer, qual sua intenção ao falar algo, o objetivo que deseja alcançar. 

Qualquer pessoa pode ter muita dificuldade de comunicação, pelo seguinte motivo: nos contextos em que é necessário corrigir a opinião de alguém, o outro pode não aceitar ser corrigido e admitir que está errado. O contrário também se aplica: você pode não aceitar que sua opinião sobre algo pode estar errada. 

O ser humano tem dificuldade de se ver imperfeito. Temos medo da rejeição social, se nos mostrarmos inabilidosos, ao ponto de nos autocobrar ter de acertar sempre. Queremos estar sempre certos, e ao mesmo tempo, ser incluídos. 

E esquecemos que o melhor de tudo é ter disposição para aprender a ser diferente, se adaptar. Isso é o que favorece a conexão entre seres humanos: a colaboração, o respeito, a inclusão.

Uma outra dificuldade muito comum no ato de comunicar é a leitura de mentes: uma distorção cognitiva comum, que faz com que as pessoas acreditem que já sabem o que a outra pessoa está querendo dizer (sendo que isso é impossível), e acabam interrompendo a fala outra pessoa, não a permitindo terminar de falar.

Nós ainda não evoluímos ao ponto de sermos considerados o professor Xavier do X-men. 

Daí, nessa crença de ficar adivinhando pensamentos das pessoas, as confusões acontecem: o outro fica chateado, pois foi atravessado em sua fala, porque alguém pensa que já sabe o que ele vai falar. Como isso é bem desagradável, quando acontece, acaba despertando um comportamento indesejado: as pessoas aprendem a mentir, só para evitar o desconforto de ser interrompido em sua fala.

A pessoa pode discordar de algo, mas fala que concorda, sem argumentar, porque se for expor seu pensamento, será interrompido.

Assim, quando alguém diz uma mentira, isso se torna uma barreira para a comunicação verdadeira. E para quem tem essa mania é preciso parar com a tentativa de “ler mentes”, e interromper a fala do outro. É deselegante e muito inconveniente. 

Quando alguém mente para nós, nos sentimos humilhados, enganados e feitos de bobos, como se qualquer um pudesse nos manipular à vontade, e fazer de nós o que quiser, sem a gente perceber.

O ponto cego que não conseguimos ver é que, a causa pelo qual o outro mentiu, está em nós mesmos. Se eu passar a ser uma audiência mais agradável, ouvindo atentamente àquilo que o outro tem a dizer, será que ele mentiria?

Uma coisa que costumamos ignorar é que uma mentira nunca, NUNCA fica encoberta. A verdade SEMPRE vem à tona. Essa é uma lei universal que existe na vida, quer você acredite ou não. 

E por não fazermos uma avaliação sobre qual tipo de audiência eu tenho sido, ao perceber que o outro mentiu, coloco a culpa totalmente no outro, não considerando a minha parcela de contribuição para tal situação.

Isso intensifica na pessoa-leitora-de-mentes a mania de querer ter habilidades Sherlockianas, e saber se a pessoa está mentindo, antes mesmo de proferir a própria mentira. E isso gera uma paranoia em quem tem essa mania, que torna a vida de quem convive com alguém assim, insuportável. 

Assim, uma situação em que a conversa deveria ser interessante e prazerosa, ela se torna estressante, desgastante e cansativa, por ter que ficar se explicando para alguém que acredita que “lê mentes”, e que sabe mais dos seus pensamentos do que você mesmo, o produtor deles! 

A solução para evitar essa armadilha mental de leitura de mentes, que atrapalha muito a comunicação, é simples: dê corda pra pessoa. Te explico o porquê.

Quando as pessoas acham que sabem mais de você do que você mesmo, elas vão se entregar. Se você der corda para a pessoa dizer o que ela acha que sabe sobre você, ela vai revelar as próprias opiniões dela. E isso é excelente, afinal, precisamos saber o que o outro pensa a sobre nós, pois, se for algo distorcido e mentiroso, essa pessoa está se revelando uma má companhia. 

Quando conhecemos alguém, a gente não sabe muito bem se a pessoa é honesta, tem caráter ou é confiável. E quando ela manifesta essa atitude incomum e estranha (de achar que sabe tudo aquilo que se passa em seu interior), você deve deixá-la se revelar, para você avaliá-la como pessoa.

O que é preciso fazer é deixar a pessoa desenvolver a história dela. Um recurso clássico, que muitos usam para saber o que alguém está pensando, é ficar em silêncio. A outra pessoa vai querer preencher esse silêncio, falando mais e mais. É aí que você vai coletando informações para saber o que a pessoa está pensando sobre você.

Então, deixe a pessoa se manifestar, se expressar. Dê espaço para ela falar, mesmo que sejam as coisas mais absurdas. Colete a verdade subjetiva dela, e analise tudo aquilo que ela quis dizer. Ela está comunicando coisas importantes: mostrando que a opinião dela sobre você é bem ruim, e revelando que não está aberta pra uma comunicação recíproca.

Essa não-permissão para o outro poder se expressar naquilo que ele tem pra dizer, revela que, se você optar por permanecer em contato com essa pessoa, você será oprimido em sua comunicação. E isso é muito comum ocorrer entre casais, familiares, amizades, relação de trabalho. Algumas pessoas, simplesmente não conversam. Fazem monólogos.

Mas quando alguém tem abertura ao diálogo e a comunicação aberta e acolhedora, será preciso aceitar um fato: sem me atravessar e achar que sabe mais de mim que eu mesmo, às vezes, esse outro pode ter algo duro a ser narrado a meu respeito, por observar minhas atitudes.

E eu preciso, obrigatoriamente, saber lidar com essa realidade, quando essa mensagem sobre mim for comunicada do jeito adequado. Senão, corro o risco de estimular o outro a mentir, caso não ouça abertamente o que ele tem a dizer.

A mentira sempre surge no contexto de alguém que pune a verdade quando ela é dita.

Quem ouve a verdade, e não sabe lidar com ela (pois ela pode desencadear reações desconfortáveis de se sentir), pode desenvolver estratégias de lutar contra ela, fugindo ou anestesiando-se.

Para alguns seres humanos, o mal é saber lidar com a realidade dos fatos, tal qual ele se apresenta a você, de forma nua e crua. Será que todos conseguimos aguentar?

Não suportar ouvir a realidade dos fatos (fora do contexto de ser atravessado e sem adivinhações sobre o que pensei ou fiz) pode ser um dos principais motivos pelos quais temos dificuldade de comunicar, entender e se fazer entendido.

Escrito por Guliver Nogueira em 30.12.2023

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