O que tem de errado com o Metaverso?

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Para quem ainda não sabe, o Metaverso é a mais nova criação do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. Sua inovação, o Metaverso, irá imergir as pessoas numa realidade virtual, no qual você será o criador de seu próprio mundo e fará praticamente tudo lá dentro: compras, palestras, reuniões, interações “sociais”, conversas, jogos, entre outros. E essas interações todas serão feitas em formato 100% virtual, criando um outro tipo de universo: o metaverso.

Porém, aí mora um problema. Como ficarão as relações sociais entre as pessoas no mundo não-virtual? Será que as pessoas se interessarão por viver a maior parte do tempo imersos nessa tecnologia? Será que as pessoas perderão a necessidade de interação social fora do ambiente virtual? Existirão mais pessoas dependentes de tecnologia, fora aquelas que já são?

Essas são algumas perguntas, que só terão como ser respondidas, depois que tudo surgir e as pessoas começarem a interagir nesse tipo de ambiente novo proposto pelo dono do Facebook. Mas uma coisa é certa e essa certeza não há como negá-la.

A melhor coisa que podemos fazer na vida para nós mesmos é dar espaço para viver ou reviver relações afetivas não-virtuais, através da dedicação de tempo para conviver com o outro no mundo concreto e palpável.

Se eu permito abrir espaço na minha vida para isso acontecer, posso melhorar muito a minha qualidade de vida através das minhas relações sociais. Como consequência, a necessidade de imergir a si mesmo nessa realidade virtual será secundária, como deve ser, na minha observação.

Para viver boas relações sociais, é preciso esforço para fazer dar certo. Dedicar tempo para conviver com quem se ama, na busca de se alegrar e divertir, tem sido algo que as pessoas tem tido cada vez menos tempo hoje em dia. O celular tem se tornado o maior substituto de interações sociais gerais.

Quando as pessoas optam pela troca entre priorizar a tecnologia, ao invés de interagir positivamente com pessoas, a percepção que os seres humanos pode começar a ter é de que as pessoas têm pouca ou quase nenhuma importância na sua vida. O celular faz tudo muito melhor e não enche o saco ou me tira da minha zona de conforto.

Inconscientemente, você passa a ser envolvido nas novidades tecnológicas quando elas surgem e não vê como elas podem impactar na sutil substituição das pessoas e da interação social, por coisas: sabe aquela pessoa que te fazia rir numa roda de conversa entre amigos? Pois é. Ela pode se tornar incompetente diante de uma tela de celular, que seleciona automaticamente os vídeos mais engraçados dos últimos tempos para você ver. E ainda te sugere novos, logo em seguida de terminar de ver o primeiro: o famoso algoritmo trabalhando para prender sua atenção às telas.

Se você parar um pouco para racionalizar sobre o seguinte tema: “qual a importância das pessoas na sua vida?”, você irá lembrar de toda teoria que você já pensou a esse respeito. E seria lindo ouvir o seu discurso sobre o que você pensa sobre esse assunto, caso tenha alguma opinião formada.

Se alguém perguntar para você fazer uma auto-observação da sua atitude ao longo do dia, para destacar o momento em que você colocou em prática a sua teoria, pode ser que você constate algo assustador. Você pode perceber de forma escassa esse momento em sua memória. É aí que você identifica um incoerência em sua vida: o discurso que tenho em valorizar e interagir mais com as pessoas do mundo concreto, não bate com a prática em minhas atitudes por pegar o celular na frente das pessoas, quando o assunto da mesa acaba. Na menor percepção de tédio, mesmo diante de alguém, eu saco o celular do bolso e vou me entorpecer com os vídeos ali.

E sabe o que é grave? Se você for questionado a respeito, você pode tender a não admitir que faz isso, negando fortemente e relativizando termos: “mas o que é dar importância para alguém? É só ficar olhando para a cara dela? Ou é ajudar ela quando ela realmente precisa?”. Sabe o que isso significa? Que você pode estar cego. E com o seu cérebro lavado.

Pode significar também que você foi induzido a se consolar com uma visão teórica sobre a vida, de como deveriam ser as coisas; mas que em suas próprias atitudes práticas, a visão teórica não bate com o próprio discurso ideal que deveria ser praticado por quem detém essa visão. Em outras palavras: você estaria sendo incoerente. E para se consolar da sua incoerência, você se apega ao discurso ideal, dizendo que você faz conforme está falando, sendo que na realidade não faz. É só desencargo de consciência mesmo.

Não podemos ser hipócritas de achar que as inovações, quando surgem, trazem quase nada de melhoria. Todos nós sabemos que a tecnologia veio para ficar. Mas parece que, de um tempo pra cá, o surgimento de novidades tecnológicas tem um objetivo, uma missão, uma meta: fazer as pessoas serem um produto a ser consumido. E como todo produto, quando ele não me é mais útil, ele se torna inútil. E o que é inútil, precisa ser descartado.

Como consequência, algo precisa substituir esse “produto humano” tão perecível. Sabe o que é? A tecnologia. Ela não envelhece, não erra, não se desatualiza, aceita tudo. É praticamente o sinônimo do paraíso na terra. Ela te “completa” em tudo.

E nesse sentido, as pessoas vão sendo envolvidas nessa forma interativa-tecnológica cada vez mais. E vai sendo impregnado no insconsciente coletivo do mundo todo, que pessoas são produtos. Se tem algo que gosto na pessoa e quero consumir, uso e depois descarto. Você já viu algo semelhante a isso ser feito na vida, através do uso de algum aplicativo de relacionamento?

O treinamento para objetificar o ser humano começou há muito tempo. Caso você ainda não percebeu isso, é melhor parar para perceber. Você já pode estar agindo assim e nem ter se dado conta disso.

Sabe por que te falo isso? Quando a sensação de vazio e tristeza bate em seu peito, isso pode ser um dos sinais de que você tem tratado as pessoas mais como se fossem coisas e objetos, do que realmente como pessoa, que tem sentimentos e sofre, assim como você.

Pense nisso.

E mude. Ainda há tempo.

Escrito por Guliver Nogueira 10.01.2022

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